sábado, 18 de junho de 2011

O Sexto Sentido I

Acha que tem um sexto sentido?

Com certeza que já alguma vez se deparou perante uma situação pensando “estava mesmo a ver que isto ia acontecer”…Mas não, não me refiro a qualquer tipo de sentido de intuição nem premonição. Refiro-me, sim, ao críptico sentido do vomerolfacto, que será o nosso verdadeiro sexto sentido.

E o que é então o vomerolfacto?

O vomerolfacto é o sentido associado ao órgão vomeronasal, um pequeno órgão receptor localizado por cima do palato, atrás das cavidades nasais. Também chamado de órgão de Jacobson, em honra do médico dinamarquês Ludwig Jacobson que o re-descreveu no séc XIX, o órgão vomeronasal é responsável pela detecção de estímulos químicos, tal como os que detectamos através do olfacto e do gosto. Mas, neste caso, parece estar sempre implicado na detecção de estímulos químicos com características especiais: as feromonas. As feromonas são os mensageiros químicos da troca de informação entre indivíduos da mesma espécie, ou seja, as moléculas usadas na comunicação química.

Apesar de ter sido detalhadamente estudado em muitas outras espécies de vertebrados, nomeadamente nos répteis, a sua existência e funcionalidade nos humanos adultos é ainda questionada, uma vez que ele foi detectado em embriões mas parece estar ausente em fases posteriores do desenvolvimento. A importância do sistema vomeronasal (o conjunto do órgão de Jacobson e respectivos receptores nervosos) está geralmente associada ao seu papel na reprodução e comportamento social de numerosos animais.

Mas, existem feromonas humanas?

A existência de feromonas no ser humano daria indícios da utilização deste sentido críptico na nossa espécie.

Um dos primeiros estudos a debruçarem-se sobre esta questão foi efectuado por Martha McClintock no final da década de 60. Esta psicóloga americana questionou-se se seria ou não certo o mito popular de que havia uma tendência para a sincronização dos ciclos menstruais entre mulheres que conviviam muito ou viviam juntas. No trabalho publicado na revista Nature em 1971, McClintock relata como as mulheres residentes num dos dormitórios universitários de Wellesley, sem a presença de homens, adquiriam ciclos sincronizados. Esta sincronização seria induzida pela libertação de feromonas, como ocorre noutros comportamentos reprodutivos doutras espécies. Mais tarde, em 1998, a mesma investigadora descobre que estas feromonas seriam libertadas juntamente com o suor das axilas. Ainda que muito criticados, estes estudos levaram a muitos outros que continuaram a explorar e alargar o nosso conhecimento acerca do papel dos estímulos químicos no comportamento sexual humano.

Há portanto, muitos indícios de que, efectivamente, existem feromonas humanas e que, por conseguinte, temos também nós esse sexto sentido, embora não tão místico como seria de supor. Assim, da próxima vez que se sentir estranhamente atraído por um desconhecido que por si passou, não pense que o cupido anda por aí perto…quiçá sejam as suas feromonas a entrar em acção. Como dizia um famoso anúncio de há alguns anos atrás: Se um desconhecido lhe oferecer flores, isso é...vomerolfacto!



Imagem: capa do livro "Jacobson's Organ and the remarkable nature of smell" de Lyall Watson (W. W. Norton & Company, 2000)

2 comentários:

  1. fiquei bem intrigado! bom trabalho Diana!

    Olha, tens aí à mão alguma cena sobre o Vomerolfacto de répteis? hiperligações ou do estilo?
    não sei nada sobre redes nervosas de répteis...
    Só umas luzes da bd americana de um personagem que se transforma num réptil (ao jeito de Dr. Jekyll/ Mr Hyde) é o Dr. Connors/ Lizard. Quando se transforma em Lizard, o tímido biólogo Dr. Connors personifica um instinto animal desenfreado! Este humano/réptil desencadeia via feromonas uma reacção em cadeia que "animaliza" humanos. Bem bizarro, não? :)

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  2. hehehe

    Obrigada!! ;)

    Sim, tenho muita bibliografia sobre répteis, mas preciso de fazer uma selecçãozita!
    Vou tentar arranjar algum link-resumo, ok?
    No entretanto, podes ler este paper, que já é antiguito, mas resume bem o tema da quimiorrecepção reptiliana: http://hydrodictyon.eeb.uconn.edu/people/schwenk/SchwenkChemoTREE95.pdf

    As conexões nervosas do orgão vomeronasal dos répteis são independentes das dos receptores olfactivos, mas penso que os feixes nervosos estão depois ligados aos bolbos olfactivos...se calhar devia escrever alguma coisita especifica acerca da minha bicharada...humm... :)

    Quanto às consequências possíveis para inocentes e tímidos biólogos...é melhor não responder, ou teria que revelar segredos bem guardados e com drásticas repercussões para a humanidade!!

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