sábado, 25 de junho de 2011

Aigolotpirc ou o Elogio da Ciência à Porta Aberta

A história da Criptologia é um passeio no campo da criatividade humana. A Criptologia foi usada por governantes e pelo povo, em épocas de guerra e em épocas de paz. Faz parte da história humana porque sempre houve fórmulas secretas, informações confidenciais e interesses os mais diversos que não deveriam cair no domínio público ou na mão de inimigos.
Tem sido ou não esta a abordagem da Ciência ao longo dos séculos? Para o bem e para o mal, a Ciência tem-se revestido de segredo, com códigos próprios, unicamente inteligíveis para quem com ela trabalha todos os dias. A Ciência tem sido feita para ser comunicada dentro dos círculos da própria Ciência e o que passa para o dominio público muitas vezes está de tal forma cifrada que poucos são os leigos (ou especialistas noutras áreas) que a entendem. A divulgação da Ciência que é feita à porta fechada, isto é, dentro das instituições de investigação, é essencial para a compreensão do Mundo em que vivemos. Muitas vezes os investigadores alegam que as pessoas, o cidadão comum, mostra pouco interesse pelas coisas da Ciência. Nada mais errado!  O tal cidadão comum tem uma curiosidade imensa sobre como vão as glórias do Mundo, contudo o uso sistemático de uma linguagem encriptada, torna a Ciência algo totalmente enigmático. 
Não devemos nós, Comunicadores de Ciência (investigadores, divulgadores, assessores, consultores, jornalistas), tornar a Ciência acessível a todos, desde o maior especialista mundial até à senhora que vende botões na retrosaria do bairro? Sim, é nossa missão aproximar a Academia da Rua e, porque não?, a Rua da Academia!


Nota: Aigolotpirc é Criptologia escrita de trás para a frente, a forma mais básica de encriptação.

7 comentários:

  1. Totalmente de acordo. Nem todos os investigadores têm skills de comunicação, tal como nem todos os profissionais da comunicação têm bases para compreender os investigadores. A situação com que mais me deparo nas minhas turmas é a queixa de que "não compreendo o que os cientistas dizem, usam termos muito complicados!". E nas minhas visitas a universidades com turmas, numa delas tive de pedir ao investigador que usasse termos correntes porque as pessoas não sabem o que é um angstron sequer...a turma acabou por me confessar q não tinha gostado nada daquela exposição em concreto porque não tinham percebido nada...

    Num mundo em que a comunicação rápida domina, a evolução da própria ciência está dependente da forma como as instituições comunicam entre si e com o público leigo. Se essa comunicação não é eficaz, a evolução científica não se processa. De que servem grandes avanços se as pessoas comuns não têm noção deles e não se sabem adaptar a eles?

    Vivemos em pleno auge das TICs e ainda existem charlatães que conseguem passar -muito melhor que a ciência- as suas concepções erradas. Porquê? Porque antes de mais são comunicadores... veja-se o caso de Deepak Chopra, que tantos ingénuos alcança tendo como trampolim a ignorância face à área da física quântica...! E como ele, há muitos mais e bem mais graves. E porquê? Como é que no século das TICs esta ignorância ainda grassa pelas sociedades?...

    A resposta é clara: porque a Ciência não está a ser comunicada a todas as camadas dos públicos existentes...

    ResponderEliminar
  2. Rua da Academia? Parece-me uma excelente ideia? Onde/quando é que a fazemos? ;)

    ResponderEliminar
  3. Virtual ou "real", a Rua da Academia soa muito bem!

    ResponderEliminar
  4. De acordo. O punchline do comentário da Ana diz tudo, "a Ciência não está a ser comunicada a todas as camadas dos públicos existentes..."
    É da nossa responsabilidade abrir estas portas, facilitar a circulação entre Academias e Ruas e vielas...

    ResponderEliminar
  5. Poderíamos criar uma aldeia da comunicação de ciência. Com habitações que representassem cada um dos públicos. A arquitectura dos edifícios reflectiria as características dos seus condóminos, a sua resistência ou permissividade à recepção de "correio" científico. Poderiam haver jardins de academo (de onde vem a Academia nas sua origens gregas) por onde passeiam diálogos, ou liceus aristotélicos com as sua escolásticas conversas, taxonomias e organizações. As ruas, vias, vielas, becos, pracetas, circulares, pontes, etc., seriam os envelopes das nossas cartas, mensagens com respostas anunciadas...(continuem)

    ResponderEliminar
  6. "Todos os dias o nosso trabalho passa por aí e bem sabemos como é difícil chegar a diferentes públicos. Ninguém se motiva quando não percebe a mensagem, desliga e passa à frente. A linguagem não pode ser tão técnica e fechada,o recurso a analogias ao mesmo tempo que se introduzem novos conceitos é uma grande ferramenta. É necessário simplificar, mais ainda quando a cultura científica de um país é diminuta. "
    por Margarida Vieira

    ResponderEliminar